domingo, 19 de abril de 2009

Não sei se o mundo é bom...


"Não sei se o mundo é bom,
mas ele ficou melhor quando você chegou..."


domingo, 12 de abril de 2009

Tudo outra vez...

"Eu não sei se ela sabe o que fez, quando fez o meu peito cantar outra vez..." Chico Buarque

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Heloísa – Ou sobre como levar uma vida poética

Escrevi um e-mail para Ela e perguntei se me encontraria qualquer dia desses. Seriam só quinze minutos, o dia que Ela pudesse. Dei-lhe uma explicação rápida, para justificar porque depois de meses sem notícias suas, eu resolvi encontrá-la.
Resolver, não é bem a palavra. Ensaiei na minha cabeça todos os dias, uma forma de convidá-la para sair, mesmo que fosse pela última vez. E todas as vezes eu desisti de levar a idéia a diante, porque depois das últimas vezes que nos vimos, Ela já deveria ter a certeza do meu alto nível de insanidade.
Aparecer na porta do trabalho dela, levando presentes vários dias, não devia parecer coisa de gente sã para Ela.
Então eu escrevi que queria lhe entregar algumas coisas que me lembravam Ela, e quem sabe depois, eu conseguiria tirá-la da minha cabeça. É claro que tanta coragem não veio do nada. Um pouco de cerveja - no bar aqui atrás da rua de casa, onde nós nos conhecemos e exatamente cinco meses depois do dia D, quando a vi pela primeira vez - fizeram toda a diferença.
Por dois quase-eternos dias eu abri a caixa de entrada do meu e-mail a todo instante, fechando os olhos e prendendo a respiração antes de tornar a abri-los, para ver que a não ser as malditas correntes que mandam a gente repassar para trezentas pessoas; ou as apresentações no Power Point, com frases clichês e imagens felizes, não havia nenhum e-mail que me traria um sopro de vida.
Eu já tinha desistido, e me envergonhado do surto de coragem que havia me tomado o corpo, quando no terceiro dia Ela respondeu, finalmente. Disse que não havia problema, me encontraria. Perguntou quando eu gostaria de encontrá-la. Incrível como a tarde ficou mais ensolarada, e como o mundo pareceu-me mais perfumado daquele instante em diante. O que mesmo estava me chateando no trabalho, antes de ler o e-mail? Não me lembro.Telefonei para Ela assim que cheguei em casa, mas Ela disse que não poderia ser naquele mesmo dia. Quem sabe amanhã... E daí até o "amanhã", as horas resolveram brincar de desacelerar.
Quando hoje já era amanhã, eu mandei uma mensagem pelo celular e perguntei se poderíamos nos ver. Ela respondeu que estava na Rua Augusta, se eu quisesse poderia ir até lá.
Fui tão rápido quanto pude, com o coração que agora já não batia, mas saltava-me dentro do peito. Tão estranho foi o que aconteceu agora: quando cheguei na Rua Augusta, já não sabia mais ir até onde Ela estava. Todos os milhões de pensamentos que se acotovelavam na minha cabeça, devem ter me saído pelas orelhas, porque o que se seguiu foi um vazio branco que me deixou desnorteada.
Precisei ligar para um amigo, que aos risos, foi me trazendo de volta ao corpo e me explicando o caminho até a casa de shows onde Ela estava. Ele não conseguia acreditar que eu, que todos os finais de semana, passava ali, bebia cerveja no bar do lado e tomava açaí na sorveteria da frente, tinha me esquecido como chegar.
Quando a encontrei, Ela estava encostada na parede, com o mesmo ar de tédio e desânimo que me conquistaram. Aquele mesmo ar blasé de superioridade, de quem está perdendo o tempo em estar por ali. Com uma mão, mexia nos cabelos, com a outra segurava o celular.
Foi como se o mundo desabasse para mim, quando ela levantou a cabeça e olhou na minha direção. Cumprimentamo-nos com o "oi, tudo bem?" mais automático do mundo, daqueles que a gente só diz por educação. Eu a abracei, e ela só se deixou ser abraçada; não fez a menor menção de quem ia mover os braços na minha direção.
Eu entreguei à Ela as tais coisas que não me deixavam em paz: um imã de geladeira que eu passei semanas procurando, com o desenho do Tintin; e uma revista, primeira edição, de colecionador, de quadrinhos de super-herói, que ela tem a menina tatuada no braço.
Ela perguntou se eu queria entrar com ela na casa de shows. Eu disse que não, que ia encontrar uma amiga no metrô. E fui mesmo. Já tinha marcado de encontrar minha amiga, porque sabia que eu ia surtar depois de ver minha musa.
Busquei minha amiga no metrô e voltamos caminhando pela mesma Rua Augusta, onde há minutos eu tive a maior catarse de toda a minha vida. Quando passei pelo tal lugar do encontro, ela estava sentada ao lado, sozinha, fazendo nada. Continuamos andando até pararmos na sorveteria do quarteirão de baixo.
Mandei outra mensagem para o celular dela, e a convidei para tomar sorvete comigo. Aquela sorveteria sempre foi a minha preferida, meu cantinho precioso, para onde até então eu só tinha ido com pessoas que tornavam o meu mundo colorido. Uma vez eu pensei em chamá-la para ir até lá, mas me achei uma boba logo depois.
Para o meu susto, ela foi. Não quis tomar sorvete comigo, mas foi até lá. Vai entender porque alguém aceita o convite para ir tomar sorvete, mas resolve não tomar...
Não me vinha nada à mente para puxar conversa. Burra! Essa era a chance que eu pedia há tempos para falar com Ela, e agora não saia nada. Tudo o que eu conseguia era brincar com a calda de morango, espalhando-a pelo fundo do pote e misturando com o sorvete de limão com amora. Enquanto isso ela brincava com o porta-canudinho sobre a mesa.
O ângulo da minha cabeça, totalmente para baixo, como volta um fracassado da guerra, só me deixava ver suas mãos brincando com os canudos. Por sorte minha amiga conseguiu puxar conversa e pensar em um assunto qualquer para dissipar aquele silêncio mortal. Mas não adiantou muito na verdade, depois de minutos o silêncio voltava cortante...
Ela me disse que não precisava ter medo dela, entregar as coisas e sair correndo. Eu só consegui dizer que há muito tempo esperava para poder lhe entregar aquilo. A conversa ficou nisso, nessa não-conversa. No mais, ela me perguntou:
- "Te falei que eu ganhei um cachorro?"
- "Não. Não falou." - eu respondi.
- "É... é que eu não ganhei um cachorro."
Um riso frouxo e amarelo nos escapou aos dentes e isso foi tudo. Duas meninas entraram na sorveteria e Ela as reconheceu. Trabalhavam em um bar que ela costumava freqüentar. Logo as três começaram a conversar. Lembrei de como eu me sentia uma idiota perto dela, sem nada interessante para dizer, nem uma vida poética para oferecer. Despedi-me, peguei minha amiga pela mão e fui para casa me sentindo leve e livre como há cinco meses e quatro dias eu não me sentia.