domingo, 20 de março de 2011

O gato, a dona e a menina

O gato conheceu a menina, e entendeu porque todas noites a dona rezava baixinho e pedia que ela voltasse.
A dona disse ao gato, que se a vida fosse justa, a menina seria sua outra mãe, e que todas as noites lhe encheria a vasilha com leite e lhe daria um beijinho de boa noite antes de ir dormir.
O gato se encantou pela menina e se exibiu a manhã toda, andando pela casa fazendo tudo para chamar-lhe a atenção.
A dona, sorria como nunca, e o gato que nunca havia visto ela em tantos encantos, sentia-se feliz também.
Até o cachorro imaginário, abanava o rabo e latia sorrindo.
Todos eles, torcendo para que a menina viesse logo pra dona, que todas os dias pedia aos deuses todos, aquele amor de volta.

quinta-feira, 17 de março de 2011

mais

Por alguns instantes tudo ficou suspenso. Se o tempo parasse, eu seria mais feliz.
Ela ali, olhando nos meus olhos. Meu coração na boca.
O mundo fez-se mais leve, tudo fazia sentido. Eu tinha um porque.
E foi a melhor manhã dos últimos tempos.
Eu quero mais.

Depois que ela foi, já que o tempo insiste em andar, o chão sumiu. O céu desabou. O peito explodiu.
E eu morri outra vez.

Eu confirmei o que eu já sabia. Ao lado dela, e só assim, eu quero a vida. Do contrário, me deixa afogar nas tristezas.

fantasmas

então eu olhei bem pro gato, e disse:
"presta atenção, ela vai chegar. presta muita atenção. ela podia ser o meu futuro, o seu futuro. a sua outra mãe."
e era verdade, se a vida fosse boa, ele já teria conhecido ela antes, em outras circunstâncias.
hoje ela era só a visita, que veio conhecer o gato e desenterrar uns fantasmas.

quarta-feira, 16 de março de 2011

ovni

no começo, eu tinha assim, certeza, que era você, pra vida toda.
e lembro da primeira vez que isso me ocorreu, e eu tentei ser racional. disse pro marcelo, até, assim que olhei, que meu deus do céu, como você era linda. no mesmo dia eu liguei no seu celular, pra falar com outro amigo. pela primeira vez, eu ouvi a sua risada, essa que eu nunca vou esquecer.
e aí, que o universo inteiro conspirou. você entrou na minha vida, trazendo pra perto, tudo aquilo que sempre me pareceu distante, o amor.
eu caí aos seus pés e entreguei pra você os meus olhos, todos seus agora.
um dia a gente viu uma nave espacial e aí sim, era certo, era você pra vida toda. se eles apareceram pra gente, e só pra gente, é porque éramos sim, pra toda vida. era certo agora.
e dia ou outro, quando tudo ia por água a baixo, eu lembrava da nave. aquele ovni no céu da madrugada, me provava por a+b que você era pra mim, como o céu é para a estrela, o mundo todo.
hoje, você foi embora. e eu fico pensando ora na nave, ora no amor, ora em por que é que eles não me buscam logo. a nave e o amor deveriam me tirar logo daqui, e me levar pra anos luz daqui, que esse amor que se confunde com loucura, nem cabe no universo.

ódio

há tempos não me faz bem e eu não consigo te tirar daqui.
se eu pudesse, apagava toda e qualquer lembrança sua.
foi a pior merda que me aconteceu. foi a única pessoa capaz de me machucar e me levar qualquer vontade de coisa bonita.
foi quem me ensinou a amar e ao mesmo tempo me ensinou um amor doente.
me fez aprender a confiar, pra me ensinar que as pessoas que você confia, também te machucam, e te dilaceram sem o menor pudor, olhando nos olhos.

e eu fico aqui pensando em tirar a vida, justo por você, que não merecia uma única vez que meus olhos brilharam.
não sei de onde vem esse seu prazer de me lembrar você quando eu quase consigo continuar, mesmo sem fé. não sei de onde vem esse amor que eu derramo nos teus pés, quando eu quero mesmo é me afogar na minha dor ridícula.

se eu sobreviver, eu vou desejar todos os dias que volte pra mim, ou vá para o inferno com todas as suas manias toscas de me fazer esperar pra te ver. mesmo que seja só pra te ver.
e você sempre fez isso, mas não precisava fazer agora.

eu olharia agora nos teus olhos, tomada pelo ódio. e você não reconheceria o menor sinal em mim, de que um dia eu te amei.

terça-feira, 15 de março de 2011

por nós

amo por mim, de corpo todo, peito aberto, olhos fechados.
amo por ti, que me deixou de corpo nu, carne viva, ferida exposta.

amo por nós duas, ainda que não sejamos mais propriamente nós.
ainda que sejamos nós desatados. nós desatadas.

amo por mim e por você, que já não ama, nem muito nem pouco. ainda que pouco fosse já suficiente pra mim que já quase não respiro.

ateio fogo ao passado, pra ver se o vento sopra pra longe essas cinzas e deixa o dia um pouco mais colorido.

segunda-feira, 14 de março de 2011

que se sustenta no ar

já perdi a vergonha de sentir tanta saudade. perdi a conta dos dias sem você. perdi a fé nas pessoas quando logo você, minha menina perfeita pra vida inteira, me abandonou com flores nas mãos, sem nenhum pudor. perdi a coragem de tentar outra vez com outro alguém.
então eu encontro sempre um jeito de te lembrar.
quando o mês acaba e eu tenho que arrancar a folhinha do calendário, lembro que eu deixava ela lá dias a fio, esperando você pra arrancar, só porque você gosta de fazer isso.
fui comer biscoito e deixei os mais queimados pro final, quem sabe dava tempo de você voltar, são seus preferidos.
guardei a caixinha de fósforo de uma amiga, cheia de pontas, só pra abrir vez em quando e lembrar você.
não que alguma coisa precise me lembrar você ou que você não passe o dia todo me doendo como um espinho cravado, mas é pra lembrar que eu sinto a dor mais linda, e me permito sentir, porque é dor, mas é de amor sublime.

quarta-feira, 9 de março de 2011

terça-feira, 8 de março de 2011

Cinco meses

Eu entendi que as cicatrizes todas que ela deixou, ainda vão ficar por aqui. E que as alegrias que ela levou, não vai devolver.
Então eu decidi, que daqui pra frente sou só sorrisos, porque lembrei que eu não sou fraca assim.
Se nos últimos tempos as coisas andaram um pouco pelo avesso, a parte boa é que eu estou atravessando tudo e pior do que foi, não fica. E quando já não se espera nada de ninguém, a gente não corre o risco de dar com os burros n´água.

No final, eu vou sempre lembrar dela, às vezes com um pouco de mágoa, ora com um pouco de amor. Mas eu vou lembrar que gosto muito mais de mim.

E dela em diante, eu cuido bem do meu jardim, mesmo sabendo que às vezes ele enche de pragas.
Não deixo mais de regar as flores.

terça-feira, 1 de março de 2011

do que sobra do que falta e do que resta

depois de todo o tempo que eu levei pra me permitir chorar, agora não consigo me fazer parar e tenho os olhos vermelhos o peito apertado o ar me faltando e a ânsia
a falta de sono e a sobra de choro
a sua falta e a minha sobra
a sua falta e todo o resto
você me falta e tudo é resto
e já não resta vontade de nada só me falta coragem pra ir




cansaço

Logo eu, tão racional, meti os pés pelas mãos e entreguei meus olhos, sem reservas.
Agora eu ando pelas ruas, cega. Me perco nos grandes e emaranhados caminhos, quase enlouqueço.

Eu grito por socorro, já não me faço bem.