sábado, 25 de maio de 2013

Fim de Maio



É de manhã, e embora nem seja tão cedo, o plano não era acordar agora - o plano era ir até o banheiro fazer xixi, num estado de sonambulismo, semi-zumbi, e volta pra baixo do cobertor como se nada houvesse afetado esse lindo sábado de sol que se estende lá fora para os meros mortais, a fim de aproveitá-lo, não eu.
Mas ao voltar pra cama, pego o celular para olhar as horas, apenas pra me dar o gosto de ver que já é dia e que eu voltarei a dormir em um horário em que o mundo - pelo menos esse lado de cá do planeta -começa a fervilhar de gente.
No celular, dei de cara com umas mensagem da sempre amada ex-namorada, dizia: "Que vai fazer hoje?". Os próximos oitenta e seis mil e quatrocentos segundos que reservam o meu futuro, desde agora até o fim das minhas próximas vinte e quatro horas, passam por um criterioso processo de análise. Mesmo depois de tudo isso, esqueci de olhar que horas eram.
Se é que eu ia realmente fazer alguma coisa interessante hoje, já não me lembro. Sua pergunta me dá margem a pensar em todas as coisas que eu poderia ter pensado em fazer, e que deixaria para a próxima, apenas com o estalar de dedos dela. Se eu tivesse uma viagem planejada para desbravar os segredos do universo e da vida neste sábado, se tivesse horário marcado com alguém que pudesse ler meu futuro, se tivesse um encontro com deus, nessa hora tudo estaria adiado.
Nada do que eu tivesse planejado fazer parecia digno do meu próprio tempo e querer, se por acaso ela quisesse companhia pra qualquer coisa. Ainda que fosse pra dar pipoca aos macacos.
Mas... e se ela não pensasse em me chamar pra fazer coisa alguma (ainda assim eu iria), e estivesse só curiando, especulando, sobre meu sábado onde o plano era acordar tarde, sair pra tomar uma cerveja e depois assistir velhos desenhos animados? Então tudo volta pro lugar, meus pensamentos voltam ao instante antes dessa mensagem e eu penso que deveria voltar a dormir... Acho que eu já perdi muitas horas de sono por ela.
Respondo que o plano de hoje é uma cerveja mais tarde e nada mais. Ela me chama pra tomar essa cerveja com ela. Parece bom, mas sinceramente acho que não. Volto a dormir.

terça-feira, 21 de maio de 2013

no meio da noite, um drink. no meio da noite, você.

certas coisas só um tanto de álcool faz por você. permitir-se sentir embalada pelo quadril de outro alguém, dormir envolvida em outros braços, acordar entregue em outro peito. coisas que embriagada se tornam mais fáceis de lidar. coisas que dopada, você se permite viver, sem culpa.

e também é o álcool que em outras horas me lembra de você. que me dá um soco na cara, lembrando a saudade que eu sinto, e que qualquer braço, perna, peito, não são os seus. que qualquer abraço, beijo, gosto, não são os que eu queria.

e me lembro que se não é você, ninguém é capaz de acalmar minha alma, meu corpo, meus sonhos.
e te ligo, mais uma vez, no meio da noite.

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Cravos e epifanias

Desde que você embora, nenhuma flor entrou em casa. Antes de qualquer coisa, porque mesmo antes de você ir, os poucos vasos já haviam sido quebrados em uma discussão qualquer. Mas também, porque imagino que uma casa com flores, é uma casa de gente feliz, e eu não podia dizer que era exatamente feliz com a sua ausência.
Um pouco mais tarde, pensei em comprar flores, enfeitar a casa, colorir a vida, perfumar os dias. Pensei em rosas, logo de cara. Mas elas me fazem pensar em você. Tanto porque é a flor dos apaixonados, quanto porque é a sua flor, seus braços, sua mãe; porque é a flor que te entreguei junto com meu amor, na primeira vez em que saímos juntas.
Pensei nas gérberas, uma das minhas preferidas, todas cheias de vida nas suas várias pétalazinhas infantis. Então, como uma pancada, me veio à cabeça as inúmeras gérberas que você já me deu, por motivo qualquer ou por motivo nenhum, só porque lembrou de mim em um momento qualquer numa epifania de amor. Pronto, não consegui pensar numa só gérbera nesse mundo que não fosse me castigar com a lembrança do seu sorriso aberto. Tudo isso foi razão suficiente pra nunca mais pensar em flor alguma.
Eis que saindo do mercado, num fim de tarde qualquer, dou de cara com um balde com um só único cravo. Provavelmente, todos os outros haviam sido vendidos e ele fora o único que não havia sido escolhido.
Por que não?! Comprei por impulso, sem pensar o quanto podia me maltratar o peito ter uma flor em casa outra vez. No caminho pra casa, até pensei que fazia muito sentido ter aquele cravo comigo; não era cravo de defunto, mas celebrava alguém que já não era mais presente, e além de tudo, estava sozinho no balde, mesma sensação que você deixou ao pular fora do barco. 
Então era isso, o cravo e eu. 



Hoje parei pra dar uma olhada na internet, sobre o significado de algumas flores, e heis que me deparo com a descrição do cravo listrado: simboliza lamentar um amor que não pode ser partilhado.
Não sei se é fato ou não, provavelmente não significa nada, mas eu fico com essa explicação.

E sabe o que é pior? O cravo ficou lindo aqui em casa. Não tinha nenhum vazinho pra ele, mas ficou perfeito numa garrafinha de tubaína. 

terça-feira, 7 de maio de 2013

Mais uma dose

Sonhei que tomava um conhaque que chamava "Conselho". Chegava no balcão do bar e dizia "Me dá um Conselho, por favor!". Como faço pra patentear? Acho que faria sucesso!

quinta-feira, 4 de abril de 2013

depois do fim


ainda não passou e nem sei se vai passar. eu sigo sem você e sou até mais feliz do que pensei que poderia tornar a ser. só não me peça pra amar outra mulher.
em uma briga qualquer, dessas que antecediam o fim, você me escreveu algo que diz exatamente o que eu sinto hoje.


"Eu não queria que tudo tivesse um fim, queria ficar com vc, porque eu sei que é você, mas mesmo sendo vc, eu sei que talvez não dê certo mesmo. Mas queria que tivesse dado certo, queria que tudo tivesse ficado bem e que tivessemos juntas agora.

Lamento infinitamente, porque nunca mais acharei ngm como vc.
Eu te amei e te amo mais do que tudo na minha vida e espero poder sentir isso novamente algum dia, porque mais forte não há.

Me perdoa se eu te agulhei tanto, entendo que até mesmo quando eu não estava na intenção de te agulhar vc entenderia como se tivesse te agulhando, pois te aporrinhei um monte, né! :(

Te amo demais, espero que seja muito feliz...
Se cuida.

:("


depois desse e-mail, não durou muito. daí em diante, 51 dias pra ser exata, foi o tempo que levou pra vida mudar nossos destinos.
e é isso, se eu tivesse que te dizer alguma coisa, faria dessas suas palavras as minhas.

Eu era feliz - Ou antes de te conhecer


Nesse mesmo dia, há exatos quatro anos, eu soube que queria você pra mim. Soube assim que botei os olhos em você.
E se depois de tanto desencontro eu volto a dizer coisas que não poderia sequer pensar, é porque ainda me sinto tomada pelo mesmo desejo.
Depois de você, meu mundo nunca mais foi o mesmo. O caminho sem você já foi um fardo pesado, já foi uma ferida exposta, já foi desespero.
Hoje, você é uma lembrança gravada na carne. Um nome tatuado no braço e cicatriz no peito. Uma fotografia guardada no fundo da gaveta, daquelas que a gente esquece que está lá, e tem uma surpresa nostálgica quando reencontra.
E nesse emaranhado de sentimentos que o tempo trata de dar um nó, por vezes lembro só das coisas boas, dos apelidos, dos olhares, dos sorrisos. Confesso que esqueci muitos dos nomes que eu já te dei, dos muitos jeitos que procurei de dizer do meu amor que era seu, dos planos de um futuro bom. 
Mesmo assim, gosto de lembrar de você, deitada em meu braço, "your place", me contando a história que eu já sabia de cor, do nosso encontro nesse universo. Gostava de ouvir você repetindo essa história, me contando como foi que você se apaixonou por mim, e como foi que eu escancarei o peito e me perdi de amores por você. Gostava até da sua camiseta com um bordado que me dava alergia.

Fui feliz. Amei você. Senti algo que pensei ser coisa só de filme.
Sofri quando decidiu ir embora. Sofri quando não me vi mais nos seus olhos. 
Sofri quando deixou de me amar.
Sobrevivi a sentimentos que eu pensei que iriam me roubar o prazer de viver.

E hoje, tenho sido feliz, não nego. Mas não venci a batalha contra meu querer. Querer apagar a lembrança que tanto me dói, de tudo o que fomos.

sexta-feira, 29 de março de 2013

do erro de estar ainda aqui

sabe, mãe, a vontade que eu sinto de te liga re dizer que sou uma merda?
conhece o peso que carrego nas costas, por querer te dizer que ando ao ponto de largar tudo, caminhar sem roupas e de pés descalços pelas ruas, pronta a me jogar na frente de qualquer carro que passe em velocidade além do limite?
porque eu respeito todos os limites, mas odeio todos. acho que limites me fazem mais fraca, mais feia, mais besta. limites me fazem mais falha. daquelas que não erram por medo.

e eu sinto falta do erro. medo do erro. ódio do medo.
sinto o erro pulsando.

o lixo

se algum dia você entender que não era pra você, que era pra um destino sem pé nem cabeça, nem nada, só câncer, entenda que já foi também um dia pra você; que foi minha visão intraduzível terrível do mundo.
saí de você com uma imagem ruim do amor. não, não foi ruim, foi intragável. De forma que não desejo mais viver amor algum, muito menos reencontrar você, que é lembrança de um erro incorrigível.
pra você, desejo paz, tranquilidade de quem não sabe a ferida que fez. pra mim, desejo paz, de quem aprendeu a lhe dar com a dor. porque não acredito em ninguém, só em quem me diz que você foi lixo.

do lugar qualquer - não meu.

não é vontade de morrer. é vontade de matar. ou talvez o contrário. e nunca saberei, porque não ousaria matar. nem mesmo um grande amor, vício, desejo. não mataria um desejo sem antes realizá-lo. porque só assim se mata o indesejável, insolúvel, intragável. só com dor, frieza, pouco caso. e assim se mata o mais doído. com descaso de quem ama mil amantes, corpos lúgubres, cheios de desejo sem amor.
porque amor é ilusão de quem quer fazer deste lugar, um lugar pra si. quando lugar tanto faz, tanto fez, tanto é.  quando lugar é passageiro, sujo, substuível.

a beira do abismo

se eu fosse embora agora, minha mãe sentiria vergonha. vergonha de tamanha fraqueza que é não saber seguir em frente quando tudo é caos. vergonha de apenas meus vinte e  cinco anos e desistência. apenas vinte e poucos anos e cansaço.
vinte cinco anos e saco cheio, seria vergonha. e só por isso sigo.
não é falta de amor nem de coisa alguma. só tenho que ir, como cartola, que precisa se encontrar, sair a procurar.

quinta-feira, 21 de março de 2013

sonho ruim

ela apareceu de manhãzinha, quase hora de acordar. como tivesse voltado de uma viagem curta, pra lugar qualquer. me disse que queria voltar pra mim, e voltamos a namorar.

nesse sonho, não sei quanto tempo depois - porque o tempo de um sonho pode ser uma fração ou uma vida toda - ela decidiu ir embora. tinha um meio-sorriso, quase tédio, quando me disse que não queria mais. e de susto, tristeza, saudade, eu acordei num pulo.

vê-la partir no sonho era ruim, mas acordar sem ela era pesadelo.
voltei a dormir pra que ela voltasse.

quarta-feira, 6 de março de 2013

fossa leve

neste momento estou olhando as nossas fotos. não é sem querer, é com a intenção nada velada de me torturar. não é porque eu senti sua falta e decidi relembrar. é porque lembrei, e resolvi sentir sua falta. então estou olhando as fotos e mentalmente me contando a história de cada uma delas. lembrei de você (aliás, lembrei da gente) porque abril se aproxima e foi a nossa primavera. abril foi nosso mês florido. éramos um jardim, você-rosa, eu-girassol.

não sei se às vezes você pára e lembra de nós, mas eu gosto de me pôr a reclamar com mundo pensando no que a gente não foi. peguei gosto pela coisa. falando assim, você pode pensar que estou meio amargurada, e quer saber?, por muito tempo até fiquei. mas hoje tirei férias dessa coisa, e estou brincando de novela. botei pra tocar músicas fossa, algumas que me lembram você, outras que simplesmente são fossa porque são. algumas eu nem sei o que dizem, mas um sexto sentido me diz que é de corno, então botei pra rodar na vitrola que hoje é o youtube.

entrei naquela página abandonada do orkut e estou olhando o último álbum de fotos nossas que eu fiz, pedindo pra você voltar. você nunca disse nada sobre esse álbum, mas também não voltou, então é óbvio que ele não funcionou. tem também aquele vídeo tosco de fotos nossas que eu fiz assim que começamos a namorar, assim que eu tomei coragem pra dizer que aquilo tudo já era amor. deus do céu, não permita nunca mais que eu faça um vídeo daqueles (coisa cafona!), e protegei os próximos casais apaixonados, pra que não paguem um mico desses. vivemos muitas coisas bonitas, mas algumas coisas que pessoas apaixonadas fazem são um verdadeiro mico para a história da humanidade. em resumo, estou curtindo este momento fossa com leveza e bom humor.