domingo, 17 de janeiro de 2016

Titanic

pra estar com alguém a gente tem que gostar de estar junto, gostar do papo, querer dividir a vida. se a conversa é maçante, se a gente tá cagando pra vida do outro, se a gente prefere aumentar o som do rádio ao invés de escutar o que o outro insiste em dizer, tem algo muito errado nesse estar.
se a presença é mecânica, se falta querer pra compartilhar um instante, se a escuta é surda, o instante é vazio.
se você joga a bolinha pro cachorro, pra se livrar dele, e não pra brincar, tem algo muito errado com você e não com o cachorro. se você põe pra tocar as músicas que ela gosta, pra que ela cante ao invés de te contar algo, você está desperdiçando tempo. desperdiçando o seu tempo, o dela, o de vocês dois juntos, o de alguém que gostaria de estar com você e de alguém que gostaria de estar com ela, desperdiçando o tempo que vocês poderiam já ter pulado fora do barco antes de bater no iceberg...

terça-feira, 6 de outubro de 2015

conto contigo

mais do que nunca eu to contando com você. vou precisar da sua ajuda pra me lembrar que não tem volta. eu não sei como fazer pra ficar longe de você, como não pensar em você, não querer te ligar ou te ver. 
acho que você, bem antes de mim, se deu conta de que isso não ia funcionar. talvez eu tenha percebido também, mas eu queria mais que tudo ficar com você e por isso acho que eu não quis ver, pra não ter que lidar com a idéia de ver alguém que eu gosto indo embora.

mas eu sabia sim, que eu não tenho estrutura pra lidar com um relacionamento conturbado. meu mantra sempre foi a música do Cazuza, "eu quero a sorte de um amor tranquilo", mesmo que do mantra em diante, todo o resto seja sempre cheio de dramas de uma novela mexicana.

mas eu ainda quero a sorte de um amor que não me dê rasteiras, que não vá dormir sorrindo e acorde atravessando a porta; que o frio na barriga seja bom, e não de incerteza. pra isso vou precisar todos os dias lembrar que não dá pra ser contigo, e que ao invés de voltar correndo e pedir pra você ficar, eu preciso deixar você ir embora. mesmo que deixar você ir embora faça dos meus  dias um arrastar de horas sem graça, sem vontade de nada, só um nó na garganta, uma saudade apertada e uma ausência latejando no peito.
antes de desviar o meu caminho pra longe do seu, só acho importante você saber que eu só queria você, que não me faltava ninguém, que eu sempre quis encontrar em você um lugar pra aportar; embora sempre também com um puta medo da hora de naufragar.

enfim, vou guardar você com muito carinho, e vou digerindo devagar o pouquinho de mágoa que ainda não desceu, acreditando que muitas coisas que a gente diz nervoso, saem mais pesadas do que deveriam.
tenta não se irritar se eu fraquejar e te ligar no meio de um domingo qualquer. se você puder, só lembra que eu to tentando, e que antes de querer falar com você, eu provavelmente já tentei pensar em tudo o que me faz desistir da gente mas não foi suficiente pra me dar força. 
tenta também não guardar mágoa, pra que quem tiver a sorte de estar com você no futuro não precise provar do azedo dessas dores que a gente carrega pela vida. 

TE QUERO, MUITO BEM.

segunda-feira, 22 de junho de 2015

Mar calmo nunca fez bom marinheiro

Doeu muito quando a Letícia foi embora. Demorei pra me reconstruir e deixar o barco seguir. Tinha certo pra mim que não iria deixar tempestade nenhuma virar meu barco outra vez.
Errei. E descobri que eu ainda era capaz de gostar de alguém, depois de tanta coisa ter dado errado, tanto murro em ponta de faca, tanto barulho, trovão e ventania.
Com muito medo, anos depois e depois de experimentar um tanto de gente sem qualquer pretensão de ir em qualquer correnteza, me vi aportando. Aportando e apostando que (será, meu Deus?), vou fazer daqui meu porto seguro.
Errei outra vez. E lembrei outra vez da primeira vez que me afoguei.
Entendi que preciso voltar pro meu barco, deixá-lo correr solto. E se for a vontade do mar, outro dia outro porto.

domingo, 7 de junho de 2015

Sobre o que seriam os domingos

E hoje, como todo domingo, era dia de ficarmos jogados no tapete, entre uma bagunça de edredons. Era dia de brigar pra descobrir quem ia descansar a cabeça na almofada que a sua avó te deu - a almofada mais cobiçada da casa.
Era dia, como todo domingo, de eu me irritar com o jogo de futebol que você sempre assiste, seu vídeo game sem graça, e essa vida "casa/tv" que você leva - e que eu por opção, sem nenhum aparelho de tv em casa, tive de aprender a gostar.
Então, hoje era dia de estar com você, desde os primeiros minutos da manhã quando eu te odeio por acordar tão cedo, até a hora de pegar no sono no tapete e ir resmungando escovar o dente e ir pro quarto.

Era dia de tudo isso, mas não foi.

domingo, 18 de janeiro de 2015

Domingos

Hoje foi um dia bom, mas foi um domingo estranho.
Mal começou, e eu precisei me pôr a tentar lembrar o que é que eu fazia com todos os outros domingos antes de você chegar. No meio da tarde, me peguei pensando umas tantas vezes o que estaríamos fazendo naquela hora, se estivéssemos juntos. E agora à noite, procuro um jeito de me espalhar pela cama, já que não sei onde pôr meus braços e pernas.

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Das despedidas que eu começo a fazer

Das saudades que fazem ninho aqui no peito, eu penso agora na vista da sua janela, que dá de frente pra um bonito gramado verde. Os cachorros que a gente nunca soube o nome, mas que são tão nossos de todo dia tanto olhar correr e brincar. E que te gostam tanto, que respondem ao teu assovio com olhares atentos e rabo abanando, e te procuram na janela. Essa saudade, penso eu, é um dos quadros mais bonitos que eu pintei.
Dos dias frios em que eu tinha a certeza da tua companhia pra aquecer, da barba com um ou outro fio branquinho despontando a entregar seus anos que vão chegando, da garrafinha de água sempre quase vazia ao lado do sofá que era eu a responsável por abastecer.
Das tuas costas largas e desenhadas, sempre com alguma coceira pedindo pra ser descoberta como um alvo na batalha naval. Do cachorro do zelador que mora aí em cima do teu apartamento, que rói aquele osso todo fim de dia, fazendo barulho no teto da tua sala enquanto você tenta ver na tv qualquer coisa sem graça e morre de rir ou enquanto implica com a falta de nexo de algum desenho animado.
E mesmo as broncas que você sempre ranzinza fez questão de cuspir, pelos cabelos na pia, pela porta aberta, pelo chuveiro pingando, pelo copo quebrado, pelo edredom no chão - eu sentirei falta.
Mesmo as outras tantas coisas que eu nem me lembro agora e que eu nunca imaginei sentir saudade até ontem, eu sei que logo vão bater à porta e se preciso vão arrombar janelas, até que eu encare esse luto de me despedir de você.

Ponto de vista

e começo um novo parágrafo, sem saber em que pé ficou o anterior. Se foi ponto final, vírgula, dois pontos, não deu tempo de saber. Reticente fico eu, que não sei o que eu faço com todo meu tempo de volta, só pra mim. E recomeço outro capítulo sem letra maiúscula mesmo, porque a saudade me faz sentir bem pequena. Dois pontos
Na linha de baixo, parágrafo, travessão... E uma dor atravessada no peito, vontade de chorar por tudo aquilo que se perdeu pelas entrelinhas, linhas tortas, mal traçadas - por tudo o que foi dito e por tudo o que o tempo não deu chance de dizer.
Vou sentir sua falta, mas se é o fim do capítulo, em algum momento a gente vira a página.