quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Das despedidas que eu começo a fazer

Das saudades que fazem ninho aqui no peito, eu penso agora na vista da sua janela, que dá de frente pra um bonito gramado verde. Os cachorros que a gente nunca soube o nome, mas que são tão nossos de todo dia tanto olhar correr e brincar. E que te gostam tanto, que respondem ao teu assovio com olhares atentos e rabo abanando, e te procuram na janela. Essa saudade, penso eu, é um dos quadros mais bonitos que eu pintei.
Dos dias frios em que eu tinha a certeza da tua companhia pra aquecer, da barba com um ou outro fio branquinho despontando a entregar seus anos que vão chegando, da garrafinha de água sempre quase vazia ao lado do sofá que era eu a responsável por abastecer.
Das tuas costas largas e desenhadas, sempre com alguma coceira pedindo pra ser descoberta como um alvo na batalha naval. Do cachorro do zelador que mora aí em cima do teu apartamento, que rói aquele osso todo fim de dia, fazendo barulho no teto da tua sala enquanto você tenta ver na tv qualquer coisa sem graça e morre de rir ou enquanto implica com a falta de nexo de algum desenho animado.
E mesmo as broncas que você sempre ranzinza fez questão de cuspir, pelos cabelos na pia, pela porta aberta, pelo chuveiro pingando, pelo copo quebrado, pelo edredom no chão - eu sentirei falta.
Mesmo as outras tantas coisas que eu nem me lembro agora e que eu nunca imaginei sentir saudade até ontem, eu sei que logo vão bater à porta e se preciso vão arrombar janelas, até que eu encare esse luto de me despedir de você.

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