quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Longa metragem

Era uma grande sala de cinema. Só nossa. E assistíamos de perto, quase cegas, o filme que ali era projetado. E ríamos, chorávamos, nos assustávamos, a cada nova revelação daquele filme. Gostávamos mesmo era de relembrar do trailer que havia passado antes dele começar.
Trailers sempre parecem mais interessantes. Filmes começam a entediar um pouco pelo meio.
Então o filme acabou e nós sabíamos. Mas escolhemos ficar lá até o fim. Vimos com um pouco de tédio o letreiro subir. E ficamos meses olhando o letreiro, sabendo que já era além do fim, com o tédio e o tédio e o tédio tomando conta.
Por preguiça ou por achar que o filme poderia continuar depois do tédio, continuamos sentadas. Então percebemos, o filme acabara e que não fazia mais sentido continuar ali.
Fomos para outras salas, assistir a projeção de outros filmes e trailers e trailers e trailers de filmes que talvez não fossem maiores que um curta metragem.
Volta e meia nos víamos projetando também, não filmes, mas expectativas. Volta e meia eu pensava se ela ria nesse outro filme, de piadas velhas de filmes antigos. Volta e meia eu pensava se ela voltaria àquela velha sala escura, sem filme nem letreiro, nem pipoca velha pelo chão, só pra lembrar outra vez daquele trailer.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Quinze anos e dois meses

Você foi um anjinho na nossa casa.
Descanse, todo mundo já sente sua falta.

domingo, 7 de novembro de 2010

Neblyna - ou se São Francisco existisse

Eu só peço para que ela fique bem.
Não sei como vai ser se ela for embora.
Ela está longe, mas me disseram que seu corpo começa a esfriar e sua respiração é fraca.
Ela é forte, eu sei. Ela não desiste. Não se entrega.

Enxerga pouco, tem o corpo cansado. Tem quinze anos e recebeu seu nome por ser branca como a neblina na serra.

Se eu acreditasse em santos, iria orar pra São Francisco, pra te deixar com a gente um pouco mais.

Se você tiver mesmo que ir, que durma bem, e não sinta medo. Que não doa, não sofra, não sinta.
Você foi a coisinha mais doce nessa família.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Caminho

Surgiu como uma estrela no céu da noite.
A mente dizia "tenha calma". Se ainda fosse racional o suficiente, ouviria com atenção.
Mas os últimos tempos haviam sido cinzentos e ela não queria ser racional agora que o dia ia nascendo e um raio de sol perfurava as nuvens no céu e começavam a iluminar outra vez o caminho.
Quase não lembrava das noites, nem do frio, nem das cicatrizes que carregava consigo. Por isso caminhava com passos largos, como quem tem certeza do caminho e não teme dar um passo em falso.
Onde queria chegar, não tinha certeza, mas importava caminhar e manter-se em movimento, não deixar nunca roubarem-lhe os dias.