quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Impropério

O que eu fico me perguntando, é como alguém é capaz de dizer tanta bobagem em apenas três horas? Como alguém pode ser contratado para dar aula, ser chamado de professor, ser formador de opinião, sem acreditar no papel transformador e no poder de crítica das pessoas?

Assisti hoje a pior aula que eu poderia ter na vida! Ouvi besteiras imensuráveis, e com a impossibilidade do direito de resposta, sem que isso me custasse uma dependência no final do curso, calei até onde pude. Mas em muito pouco tempo, o que eu acredito como ideologicamente certo me saltou a boca.

Eu não sei fazer réplica, se não for inflamada. Não sei se deixo, ou se sou tomada, mas gosto de levantar minhas bandeiras. Hoje o que mais me doeu, foi ser censurada, ainda que ele não tenha me mandado parar.

Só alguém autoritário pra dizer: “Façam perguntas ao rei, façam perguntas pra mim!”, ou alguém de uma (de)formação de extrema direita para defender o apresentador que diz em rede nacional, que “lixeiro é do mais baixo escalão da sociedade”.

Só um indivíduo altamente influenciado por teóricos liberais pode proferir que “a realidade é um campo de batalha”, ou que “quem trabalha com comunicação deve trabalhar com espetáculo, com manipulação”, ou ainda que “política só se faz comprando outras pessoas”.

Só mesmo um ser muito TAPADO, para dizer que “aqui [na faculdade] vocês são treinados”, “hoje eu já depositei bastante em vocês” e que “para um pessoal bem esclarecido isso não funciona, mas para o pessoal de escola pública, tá ótimo”.

Só alguém realmente incapaz de respeitar a heterogeneidade, para dizer rindo, que foi comunista um dia, quando tinha uns vinte anos e pensava com os neurônios, não com as sinapses.

Desculpa cidadão, meus pais me ensinaram princípios de ética e respeito. O curso de ciências sociais me ensinou que política é uma ciência e sua prática requer isso. Quem conhece um pouco de prática pedagógica deveria saber que não se “deposita” conhecimento, que a educação é uma troca e não uma caderneta de poupança; e que embora a escola pública tenha falhas, ela não anula dos educandos, a capacidade crítica e de reflexão. Quem produz conteúdo deve saber que não está lhe dando com um público passivo, incapaz. E qualquer pessoa deve saber que não se treina outras pessoas, como se adestra um cachorro a dar a pata; se ensina, num processo de mão dupla, onde educador é também educando.

E por fim, não custa nada dizer que tive professores com mais de cinqüenta anos que lêem teóricos como Marx, ainda acreditam nele; assim como tive professores de direita, que nem por isso tratam com descrédito o material produzido por esse pensador; e ainda respeitam a opinião de jovens de vinte e poucos anos, acreditando no potencial e na cognição deles, tão capaz quanto outra pessoa qualquer.

Minhas mais sinceras ações de repúdio a esse profissional desqualificado.