domingo, 26 de dezembro de 2010

Me repetir

Me dói te deixar ir embora. E não é uma questão de deixar ou não.
Eu já fui embora de você. Agora tento te expulsar de mim.

Não gosto de pensar que a gente se perdeu.

Mas se eu te expulso daqui, me deixo ir embora também e me perco de mim.
Perco o brilho nos olhos, o frio na barriga.

Desde que você foi, acho que perdi um pouquinho da sanidade.
Porque durmo-acordo-como-vivo-ando-respiro-sonho você. E você não está em lugar nenhum onde eu te procuro, e mesmo assim te vejo em todo canto.

Beira o absurdo, a loucura, o desespero...

E às vezes dói tanto que deixo de sentir. Quase esqueço você.

Quando vou dormir você me falta e eu não encontro jeito pra deitar.
A cama é imensa, o vazio é denso e eu procuro seus braços no meio do escuro.

Sabe que eu nunca mais dormi tão bem?
Dormi sim, de cansaço, de sono, de tédio, de álcool.
Mas nunca mais eu dormi de perfume da tua pele me acalmando a vida.

Eu sei que preciso te deixar ir de mim. Mas dá preguiça, dá costume, dá saudade.

Antes de dormir, eu às vezes me pego fingindo que você está aqui, e te peço pra contar baixinho no meu ouvido, sobre os dias todos que levaram até a gente se entregar.
Eu juro que sinto seu cheiro quando isso acontece.

Isso sem falar em quantas vezes eu escrevo pra você - como agora - como se você fosse ler.



Faz um favor? Volta pra mim.
Te amo hoje.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

(des)apego

"não duvide nunca que você foi o meu grande amor.
fica bem. sempre. e sempre feliz. porque você fica linda sorrindo."



(...)

"se um dia você quiser tentar de novo, me avisa?"


segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Pra me lembrar - Por um novo ano


Atenção, eu não dou mais murro em ponta de faca!
A palavra de ordem do ano que entra é "leveza".
Abri as janelas. Não tenho mais idade para ser estúpida.
Sigo do jeito torto, porque só sei ser assim.
E conforme me aconselhou o querido Caio F., abracei minha loucura.
Me disseram que a vida é boa. E eu tenho cada vez mais certeza. Plena certeza.

Ao universo, entrego meus caminhos.
Quanto à você, eu acredito que a gente deixe esse encontro para um outra vida.

sábado, 18 de dezembro de 2010

Nonsense - ou a catarse dadaísta

Então eram mais ou menos quatro da manhã, quando a gente chegou na rua de casa. - Desce comigo pra queimar umas coisas?
Subimos, e eu peguei tudo aquilo que já estava separado, esperando a hora. - Espera, vou só olhar uma última vez...
Ele disse: Tenho a noite inteira.
Amigo é terapia.
É meu melhor inferno astral.
Engraçado que mesmo encharcado de álcool, o fogo não queria espalhar.
Por sorte, Deus inventou o isopor. Isopor queima fácil.
E a gente sentou na guia da calçada, um quarteirão pra frente.
Ele me deu um cigarro, e a gente assistiu de longe àquela cena nonsense.
No apartamento atrás da gente, alguém tocava gaita e eu pensei no Johnny Cash.
Falei tudo o que eu podia. Gastei cada verbo e conjuguei no passado. Imperfeito.
O futuro vai ser mais-que-perfeito. Acabei de inventar pra mim.
Tem espaço até pra futebol. Hoje eu torço pro Botafogo.
Quando cheguei em casa, lembrei de um dvd. Voou pela janela. Bateu no carro estacionado à frente e depois caiu no chão.
Saí para comer um cachorro-quente e quando voltei não estava mais lá.
Adeus, inferno. São seis da manhã.


terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Ele entende...

''Contarás nos dedos os dias que faltam para que termine o ano, não são muitos, pensarás com alívio. E morbidamente talvez enumeres todas as vezes que a loucura, a morte, a fome, a doença, a violência e o desespero roçaram teus ombros e os de teus amigos. Serão tantas que desistirás de contar. Então fingirás - aplicadamente, fingirás acreditar que no próximo ano tudo será diferente, que as coisas sempre se renovam. '' Caio Fernando Abreu

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Bandeira branca

Desisto.
Por não ter forças, nem mais vontade, nem mais respeito. E por prometer pra mim, abrir espaço para o novo.
Desisto de qualquer contato com você. E abro mão de todas as lembranças que você um dia deixou.

Desisto até do meu ponto final. Ponto final. Era a única coisa que eu ainda buscava. Pelo simples fato de não deixar coisas jogadas pelo caminho, ou frases engasgadas; e por querer preservar o que um dia foi bom.

Por princípios, fecho essa porta agora.

Sabe quando fica um nó na garganta? Mas o cansaço é tanto que é melhor não dizer mais nada...

Não fosse a falta...



Você seria o maior amor do mundo, não fosse a dor, maior que o amor.

Vou dormir todas as noites, pedindo para que seja a a última sem você.
E acordo todos os dias, pedindo um pouquinho de força. O suficiente para levantar e levar adiante tudo aquilo que eu me propus a fazer com o mundo.
Meu deus, como você me dói!
São os melhores dias dos últimos tempos. Não fosse a sua falta, tudo seria perfeito.
É o melhor dezembro dos últimos anos, não faltasse você quando eu vou dormir.

Mas se você viesse aqui, só por hoje, eu esqueceria das dores, das farpas, dos espinhos. E enfeitaria a casa pra esperar por você.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Hoje me veio a certeza, o mundo foi feito pra mim.

Acordei essa manhã me sentindo leve.
Caminhei até o trabalho, pensando como tudo tem andando bem.
Distraidamente enfiei o pé em uma poça de água. Cheguei no trabalho, rindo, com os pés e pernas molhados.

Acordei me sentindo criança. Cantei enquanto tomava banho.
Revisei minhas tantas listas que fiz durante o ano, e com satisfação eu vi que cumpri mais do que eu mesma esperava de mim.

Falta mesmo é muito pouco. Falta uma filha, que só terei em alguns anos, falta um cachorro, que talvez não queira mais, falta um trabalho novo, mas que por enquanto não quero.

Tão satisfeita com tudo e me nasceu ainda um dia de sol, em plena sexta-feira. À noite ainda me reserva sorrisos. Posso querer mais o quê?

Me explica de onde vem essa ansiedade?

Hoje me veio a certeza, o mundo foi feito pra mim.
Só faltava mesmo você, pra eu dividir meus sorrisos.
Mas vou correr até a Av. Paulista, e me dar de presente um livro novo que eu paquero há tempos.


É a primeira vez que dezembro me parece tão leve.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Pretérito imperfeito

Então eu pensei em te ligar. E na verdade, eu liguei. Por sorte, seu telefone estava desligado.
Não sei se era pra saber como você estava, ou se era mesmo pra dizer como nos últimos tempos tudo está tão bom por aqui; só sei que por uma fração de segundo eu quis muito dividir com você todas as minhas coisas, só minhas.
Tanta coisa aconteceu nos últimos tempos, e eu pensei tantas vezes em te escrever ou te ligar, e contar cada sorriso que eu dei, cada coisa que eu consegui, e cada passo certo que eu dei. De qualquer forma, já não faz sentido. Dividir um dia já foi somar. Hoje, seria subtrair.
Meus passos tão meus...

Você me falta de um jeito que eu não sei explicar. Falta tanto, que eu me sinto cada dia mais leve. Leve e longe. Quase esqueço de tudo, não fosse uma alegria louca, que eu queria dividir com você. Por costume ou por amor mal resolvido, às vezes você ainda me falta. Mesmo que eu quase não lembre do seu rosto.

Isso é o mais estranho.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Longa metragem

Era uma grande sala de cinema. Só nossa. E assistíamos de perto, quase cegas, o filme que ali era projetado. E ríamos, chorávamos, nos assustávamos, a cada nova revelação daquele filme. Gostávamos mesmo era de relembrar do trailer que havia passado antes dele começar.
Trailers sempre parecem mais interessantes. Filmes começam a entediar um pouco pelo meio.
Então o filme acabou e nós sabíamos. Mas escolhemos ficar lá até o fim. Vimos com um pouco de tédio o letreiro subir. E ficamos meses olhando o letreiro, sabendo que já era além do fim, com o tédio e o tédio e o tédio tomando conta.
Por preguiça ou por achar que o filme poderia continuar depois do tédio, continuamos sentadas. Então percebemos, o filme acabara e que não fazia mais sentido continuar ali.
Fomos para outras salas, assistir a projeção de outros filmes e trailers e trailers e trailers de filmes que talvez não fossem maiores que um curta metragem.
Volta e meia nos víamos projetando também, não filmes, mas expectativas. Volta e meia eu pensava se ela ria nesse outro filme, de piadas velhas de filmes antigos. Volta e meia eu pensava se ela voltaria àquela velha sala escura, sem filme nem letreiro, nem pipoca velha pelo chão, só pra lembrar outra vez daquele trailer.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Quinze anos e dois meses

Você foi um anjinho na nossa casa.
Descanse, todo mundo já sente sua falta.

domingo, 7 de novembro de 2010

Neblyna - ou se São Francisco existisse

Eu só peço para que ela fique bem.
Não sei como vai ser se ela for embora.
Ela está longe, mas me disseram que seu corpo começa a esfriar e sua respiração é fraca.
Ela é forte, eu sei. Ela não desiste. Não se entrega.

Enxerga pouco, tem o corpo cansado. Tem quinze anos e recebeu seu nome por ser branca como a neblina na serra.

Se eu acreditasse em santos, iria orar pra São Francisco, pra te deixar com a gente um pouco mais.

Se você tiver mesmo que ir, que durma bem, e não sinta medo. Que não doa, não sofra, não sinta.
Você foi a coisinha mais doce nessa família.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Caminho

Surgiu como uma estrela no céu da noite.
A mente dizia "tenha calma". Se ainda fosse racional o suficiente, ouviria com atenção.
Mas os últimos tempos haviam sido cinzentos e ela não queria ser racional agora que o dia ia nascendo e um raio de sol perfurava as nuvens no céu e começavam a iluminar outra vez o caminho.
Quase não lembrava das noites, nem do frio, nem das cicatrizes que carregava consigo. Por isso caminhava com passos largos, como quem tem certeza do caminho e não teme dar um passo em falso.
Onde queria chegar, não tinha certeza, mas importava caminhar e manter-se em movimento, não deixar nunca roubarem-lhe os dias.

sábado, 30 de outubro de 2010

Dia de Sol

É, talvez as coisas ainda sejam boas e eu goste muito, muito, muito de estar por aqui.
E o sol sempre volta.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Caio Fernando Abreu

É Caio Fernando, caso você estivesse vivo hoje, eu certamente correria até você. Iríamos beber em qualquer bar sujo, e eu diria que nos últimos tempos, e só nos últimos tempos, eu passei a entender cada vírgula sua.
Eu diria que hoje eu entendo cada vírgula, e que elas me encorajam a botar fogo no apartamento ou abrir o gás e ir dormir. Você diria qualquer coisa bonita e triste, daquelas verdades que sangram. E eu dormiria reconfortada, sabendo que o mundo não está tomado por idiotas.
Mas você morreu há tanto tempo e não vai me dizer nada.

Então eu reproduzo trechos de você:

"Não choro mais. Na verdade, nem sequer entendo porque digo mais, se não estpu certo se alguma vez chorei. Acho que sim, um dia. Quando havia dor. Agora só resta uma coisa seca. Dentro, fora."

"Frágil – você tem tanta vontade de chorar, tanta vontade de ir embora. Para que o protejam, para que sintam falta. Tanta vontade de viajar para bem longe, romper todos os laços, sem deixar endereço. Um dia mandará um cartão-postal de algum lugar improvável. Bali, Madagascar, Sumatra. Escreverá: penso em você. Deve ser bonito, mesmo melancólico, alguém que se foi pensar em você num lugar improvável como esse. Você se comove com o que não acontece, você sente frio e medo. Parado atrás da vidraça, olhando a chuva que, aos poucos começa a passar."

"Talvez um voltasse, talvez o outro fosse. Talvez um viajasse, talvez outro fugisse. Talvez trocassem cartas, telefonemas noturnos, dominicais, cristais e contas por sedex (...) talvez ficassem curados, ao mesmo tempo ou não. Talvez algum partisse, outro ficasse. Talvez um perdesse peso, o outro ficasse cego. Talvez não se vissem nunca mais, com olhos daqui pelo menos, talvez enlouquecessem de amor e mudassem um para a cidade do outro, ou viajassem junto para Paris (...) talvez um se matasse, o outro negativasse. Seqüestrados por um OVNI, mortos por bala perdida, quem sabe. Talvez tudo, talvez nada."

"Penso, com mágoa, que o relacionamento da gente sempre foi um tanto unilateral, sei lá, não quero ser injusto nem nada - apenas me ferem muito esses teus silêncios."

Caio Fernando Abreu


sábado, 16 de outubro de 2010

Sábado

Voltei pra casa daquele jeito antigo. Glamour decadente. Saltos novos na mão e pés descalços no chão. Maço de cigarros amaçados no bolso. Eu só fumo quando tudo perde o sentido.
Pensei tantas vezes em te escrever, em te ligar, em gritar por você. Essa semana foi fácil. Esses últimos dias todos foram tranqüilos. Só hoje mesmo é que você me doeu assim. Todos os outros dias foram fáceis controlar.
Voltei pra casa daquele jeito antigo. Liguei à cobrar do orelhão pros amigos. Senti saudade deles e me arrependi de cada segundo que passei com você e não com eles. Sorri pra cada rosto bonito. E tomei conhaque em um copo plástico como adolescente idiota na rua.
Você me deixou perdida. Desacreditada.
Odeio ter perdido todo esse tempo brilhando só pra você.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Outra vez

Foi esta a segunda vez que me despedi de algo bom, como se soubesse que isso ia acontecer.
E foi vendo ela dormir, que lhe dei um beijo no rosto e saí.
Fui com o peito doendo, desejando que pudesse vê-la logo.
Sei lá porque inferno, não vi nunca mais. Outra vez.

Lugar vazio

Eu deveria, se tivesse um pouco menos amor, acordar e não te desejar um dia lindo. Deveria cantar as canções que tocam no rádio, sem que elas me lembrassem você. Dormir um sono tranqüilo, sem repetir baixinho que te desejo um sonho bom.

E deixar você ir embora, como na verdade já foi. Mas eu me esqueço disso todos os dias, e continuo me importando com quem não cuida mais de mim.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Sim, mundo!

O dia amanheceu feio, cinzento, convidando o corpo a estirar-se na cama.
Mas por verdadeiro prazer que sentia em contrariar, abriu-se em sorriso e cantou suas derrotas.
Olhando-se no espelho, pintou os lábios com o batom mais vermelho. E sorrindo, declarou que daquele momento em diante, o mundo era seu.

E pra tudo o que o mundo lhe convidava, ela dizia sim.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

do fim, do fim, do fim. fim.

na verdade não mudou muita coisa. eu é que definitivamente cansei de tudo isso.
vc me falta demais. vc me cansa demais. sua ausência me dá preguiça de você.
tem tanta coisa errada pra mim faz tanto tempo. tanta coisa que me cansa, que a gente promete mudar, que eu insisto à toa.
e eu me sinto tão triste há tanto tempo. você nem percebe. e nosso (meu) amor, que devia ser leve, que devia ser doce; me cansa, me pesa, me dói, me machuca. eu me sinto sozinha como nunca. e não é pela distância, é pela falta de cuidado, atenção, esforço.
te vejo mover o mundo por muito menos, e não mover uma palha pela gente.
me dói como você não imagina, ver que uma coisa que foi tão boa, me mata.

queria não insistir mais quando nada mais me satisfaz, quando tudo o que você me dá, me falta; quando tudo o que você é, me dói; quando tudo o que você me diz, me mata.

queria lembrar quando foi que eu fui capaz de escrever alguma coisa boa, me senti completa, me senti inteira.

quer conversar? eu queria mesmo é que você explodisse em mil pedaços...

eu sou grossa?
você é pouco. eu quero mais.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Cansaço

Tinha algo nos olhos de denunciava seu leve desespero.
Seus desastres lhe davam um ar cansado e desacreditado.
Não carregava mais aquele brilho nos olhos nem batia mais aquele frio na barriga.
Ficava claro que não esperava mais. Abrira os olhos e acordara do sonho.

Difícil se contentar com os restos de algo que foi tão bom.
Só esperava que fosse embora de forma leve e que lhe devolvesse o sorriso no rosto.

Enquanto isso, pedia para o universo soprar bons ventos.



quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Quarenta e quatro

Conto os dias para a ir ao seu encontro. Para mim, será um sonho. Pra ela, serei mais uma.
Mesmo assim não me importo. Penso nela todos os dias.

Enquanto isso me arrumo, escolho o que vou vestir, penso como será quando puder conhecê-la finalmente.
Ensaio o que vou dizer, penso em frases que soem tão bonitas quanto ela.

Me apaixonei por uma completa estranha. Só a vi em fotos, mesmo assim ela tem feito eu viver o último ano esperando por esse dia.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

A praia do outro lado da rua

No meu sonho, eu abria a janela e fazia um dia claro. Os prédios todos que tampavam o sol haviam sido derrubados. E atravessando a rua, havia uma praia com areia fininha e um playground.
Soprava um vento gostoso e eu não lembrava mais o que havia lá antes do mar.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Dos passos em falso e pedras no caminho

Por medo, precaução, insegurança - por qualquer coisa, menos por preguiça - cada dia se doava um pouco menos.
Já havia se enganado tantas vezes, e por tantas vezes já havia insistido naquele engano, que não via mais caminho pela frente e mesmo assim seguia a diante. Com passos menores é claro, pronta para dar um passo em falso, pronta para tropeçar a qualquer instante.
Um dia, tinha certeza, não teria mais como se doar menos. Ou desistia de tudo, ou afundaria as pernas naquele mar de lama.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Por nem mais um fio

De todas as coisas que podiam acontecer, o que ela menos queria era machucar.
Não queria que ser ela mesma, ferisse alguém. Por mais grosseira ou sincera que fosse.
E dizia cada coisa por impulso, sem pensar ou escolher palavras. Porque achava que isso era importante. Dizer as coisas como lhe pareciam, sem filtros entre a alma e a boca.

Mas de dizer sem pensar, acabou cortando o último fio, da fina corda que segurava aquela ponte, que ligava ela ao mundo da outra.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Bom dia, desastre...

"Porque ela era proibida, eu fingia que dormia. Frente a ela, cara a cara, eu espiava com os olhos entreabertos. Não que eu fosse boa em disfarçar, porque a esse ponto todo mundo já sabia daquilo que eu ainda negava. Mas se eu tinha alguma chance, então eu ia tentar, desafiando a boa moral.


Se no dia seguinte voltei ao mesmo quarto, foi por sentir-me tomada por ela. Incontrolável, irreprimível.


Qualquer coisa se tornava desculpa para encosta-me a ela. Acarinhava seu cabelo, estralava-lhe os dedos, entrelaçava as pernas em um jogo qualquer. Se ela sentia sede, embriagava-lhe de vinho, sem maldade, desejo puro. Puro desejo, DOIDO desejo.


Quase manhã, quando desistimos de tudo. Porque já não cabia em mim, porque já não era eu, porque me perdi nela, porque me encontrei nela; cedemos. Bom dia, eu te amo!"

E daí em diante, abri a porta para os desastres e demônios.

domingo, 5 de setembro de 2010

Pra respirar bem fundo...

Algumas coisas não mudam nunca. E a gente segue tentando, movido por uma fé cega, sei lá porque. Acontece às vezes de seguir sem fé nenhuma.
De um jeito ou de outro a gente continua na estrada. E volta e meia vem uma vontade louca de ser livre e desistir de seguir em frente. Largar a mão só.
Preguiça imensa de olhar pra frente e encarar você. Me mostrando como tudo pode ser chato, e como eu posso me enjoar rápido demais de tentar.
Você e seu desejo louco de me tirar o ar. De respirar o mais fundo que puder, só pra me sufocar.
E depois sorrir doce e sereno, como se eu é que quisesse muito ar.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Conto ridículo - Ou azedume


Decidi fazer uma lista de tudo aquilo que tornou azedo tudo aquilo que era tão doce.
E vou olhar toda vez que o vento entrar soprando forte pela janela, a fim de me lembrar que é melhor estar sozinha, mesmo que o frio corte a carne.

Pra nunca esquecer que você mente olhando nos olhos. Que você cobra aquilo que não pode dar.
E lembrar de esquecer esse conto ridículo que eu vivi.

É o fim da linha pra você.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

a morte de um amor doente

vc me ensinou um amor doente. pra mim era amor. pra vc eu nem sei o que era.um amor que duvida. um amor que vigia. um amor que cobra. um amor que não se satisfaz.e agora não gosta de ver que eu aprendi a amar como vc.


queria anunciar pro mundo o quanto eu te odeio. queria gritar até explodir. queria que essa dor passasse, e que você não fosse mais que uma dessas cicatrizes feias, que a gente esconde sob a roupa. queria que você não doesse em mim.
e te apagar. apagar. apagar. apagar.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Fim da linha

Vou assistir sozinha os filmes que eu baixei pra assistir com você.
E jantar sozinha a nossa comida de sempre.
Vou dormir ocupando os dois lados da cama, e ocupar a outra porta do guarda-roupa.
Ouvir canções sozinha, e cantar sem ninguém pra continuar as letras.
Vou pôr meias nos pés, porque daqui pra frente as noites serão frias.
Dormir mais cedo e acordar mais tarde, porque não tenho com quem conversar na cama.
Vou sair para o trabalho e não vou olhar pra trás, porque você não vai estar na janela acenando tchau.
E continuar sorrindo, pra que ninguém perceba como me dói ver você indo embora.

Conjunto vazio

Não quero um amor daqueles de cinema. Não quero drama, desencontro, reencontro, final feliz.
Peço só um amor tranqüilo, daqueles que não machucam.
Um amor leve. Que não corte, não sangre, não pulse. Não sufoque, não prenda, não mate, não morra. Não leve à loucura, não traga o choro, a dor, a desordem.
Um amor daqueles sem sal nem açúcar, que não brilha, não canta, não tem trilha sonora.
Daqueles que não dão trabalho, não exijam atenção, paciência, fé e força.
Daqueles que não se desgastem com o tempo, que não corroam a nossa fé na vida, que não enlouqueçam. Que não me faça querer matar.

Um amor que... não existe.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Boa noite, Theodora...

No dia em que ela chegou, fazia sol. Era a tarde mais bonita.Foi paixão à primeira vista, e trouxemos ela pra casa. Não era ela que deveria ter vindo, mas a
alegria dela não nos deixou escolha.
Quando ela foi embora, foi a noite mais fria e triste do ano. Caia um temporal, e ela dormia no
meu colo, como um anjo.
Cheguei em casa, e foi a dor mais cortante que eu já senti. A casa vazia, sem festa, sem
sorriso. Me doía ser tão traiçoeira. Ter abandonado a única amiga que em menos de quinze dias me
realizava sonhos e me acordava com lambidas, abanando o rabo.
A culpa me faz cada segundo mais triste, mas vazia, mais feia. E eu não sei se ela está com frio
na sua nova velha casa.
Boa noite, Theodora...

(in)Felicidade

Tenho medo da felicidade. Ela nunca vem pra ficar.
Custa caro e é traiçoeira.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Promessas

Por um segundo desisti do futuro... das viagens, dos filhos, das flores.
Cansei de olhar pra frente.

Então eu respirei, gritei, renovei o ar dos pulmões. Mesmo assim as coisas ainda não fazem sentido. Mas eu vou levando, com esse hábito estranho de querer pagar pra ver.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Primeiro Plano

Nunca, mas nunca, coloque seus desejos em segundo plano. Porque nunca ninguém vai fazer o mesmo por você.
Não deixe de ver seus amigos, não desmarque compromissos, não falte no trabalho, não falte à faculdade, para viver um grande amor.
Grande amor é uma coisa que dá e passa. Seus amigos, seu trabalho, sua vida não pode esperar.

Se te chamarem pra sair, saia. Não deixe de sair com seus amigos, pra esperar aquele alguém que não vem. Porque você sabe que não vem.
Sabe que vai trocar tudo pra ficar com esse alguém, e no final, vai passar a sexta-feira em casa, bebendo sozinha, escrevendo em um blog idiota que ninguém lê...

terça-feira, 25 de maio de 2010

Velhas Amigas

Eu deveria estar agora, indo pra aula. Mas lembrei de um tempo bom, quando eu ia pra aula, na escola ainda, ensino médio. Encontrava as criaturas mais doces que eu já conheci, e batia papo por horas. Quase horas, porque éramos boas cdfs.

Então agora me bateu uma saudade sem fim, de olhar nos olhos delas, e dizer AMO!
Amo tanto e às vezes na correria do dia-a-dia ou nos caminhos que quase mais não se cruzam, esqueço disso.
E agora que eu lembrei, queria poder abraçá-las e ouvir suas risadas.
Adriele, Suzan, Mari.
Lembrei de Itanhaém, e de todo o tempo bom quando vocês estavam por perto.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Sobre a dúvida

Me ensinou a duvidar do teu sorriso e dos olhos nos olhos.
Aprendi a medir palavras e ter limites pra me dividir com você.
De te amar sem reservas, entendi que o amor machuca.
Me embriaguei com loucuras e planos que eu nem sei até onde consigo levar com sobriedade.
Amo com certeza. De todo o resto eu duvido.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

A Ponte de Tédio

À um passo de atravessar a ponte...
Porque o mundo deste lado já começa a ficar sem cor, sem graça, sem mundo.
Do outro lado da ponte não há nada, mas aí eu descanso à sombra de uma árvore.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Duas damas

Amar é um blefe.
Tão perigoso como quando você aposta todas suas fichas num jogo de pôker.
Tão perigoso quanto fazer isto sem olhar as cartas que você tem na mão.
Tão sem saída como se você estivesse em Las Vegas, e não houvesse outra coisa a fazer.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Ano II depois da Luz

Demos uma volta completa em torno do Sol.
E hoje eu nem sinto a gravidade. Fico assim nas nuvens, num ano todo primavera.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Do não caber em si

eu não sei do seu amor. e imagino. e de imaginar me faz às vezes feliz.
nunca vou saber se é o mesmo... e nem tem porquê. amor é isso, é não cobrar amor, nem medir, nem caber...

O dia fez-se triste

Ela ao meu lado, chorando como criança. Eu cansada, com sono, sem paciência. Não tenho filhos.
Tomei um banho quente, deixei o amor escorrer pelo ralo.
Noite fria. Noite muito fria. Lá fora garoa, aqui dentro tempestade.

Saudade dos dias de sol, do céu azul e da brisa leve.
Já amanheceu... Quando sai o arco-íris?

sexta-feira, 26 de março de 2010

Narcisa não é ninguém

Quando era criança, Narcisa queria ser freira. Depois quis ser astronauta, quis ser pedra, quis ser bailarina, professora, veterinária, escritora, bióloga. Essa noite Narcisa só quer domir, não quer ser nada. Só calma.

Narcisa e a noite.

À noite Narcisa se revela. Egoísta. Queima o dedo com a bituca do cigarro. Durante o dia, Narcisa não fuma.
Se mostra inteira. Frágil. Cansada. Narcisa.
Bebe alguns copos de cerveja e mostra o cansaço com o mundo. Diz o que pensa e o quanto odeia tudo.
Narcisa é uma merda. Canta, dança, estuda, come e dorme. Não sabe o que é a vida. E acha que isso é tudo. Não tem nada. Só ausência.
Lhe falta vergonha, decência, movimento, vontade, coragem. Falta vida, sede, luz.
Pobre Narcisa. Tão viva. Tão gente. Tão caco. Tão pedaço de nada, resto de mundo. Sobra de mundo.
Fazer o quê? Narcisa é humana. Se olha no espelho e se acha bela. Olha pro mundo e nem sabe o que é. Faz pose pra foto e se faz estática, como merda. Estética. Morta pro mundo como quem fecha os olhos pro novo. Canta o cansaço. Beija o sono. E dorme... no acredita ser felicidade. Natural. Está morta. E ainda acredita em mágica.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Dias úteis

Então tarde após tarde, eu volto aqui.
Sento na mesma cadeira, olho para a mesma parede cor de tédio.
Respiro, olho para o relógio, suspiro.
Não é um trabalho chato. É uma trabalho.
Dias úteis são assim.
E eu não gosto de todo dia fazer a mesma coisa...

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Impropério

O que eu fico me perguntando, é como alguém é capaz de dizer tanta bobagem em apenas três horas? Como alguém pode ser contratado para dar aula, ser chamado de professor, ser formador de opinião, sem acreditar no papel transformador e no poder de crítica das pessoas?

Assisti hoje a pior aula que eu poderia ter na vida! Ouvi besteiras imensuráveis, e com a impossibilidade do direito de resposta, sem que isso me custasse uma dependência no final do curso, calei até onde pude. Mas em muito pouco tempo, o que eu acredito como ideologicamente certo me saltou a boca.

Eu não sei fazer réplica, se não for inflamada. Não sei se deixo, ou se sou tomada, mas gosto de levantar minhas bandeiras. Hoje o que mais me doeu, foi ser censurada, ainda que ele não tenha me mandado parar.

Só alguém autoritário pra dizer: “Façam perguntas ao rei, façam perguntas pra mim!”, ou alguém de uma (de)formação de extrema direita para defender o apresentador que diz em rede nacional, que “lixeiro é do mais baixo escalão da sociedade”.

Só um indivíduo altamente influenciado por teóricos liberais pode proferir que “a realidade é um campo de batalha”, ou que “quem trabalha com comunicação deve trabalhar com espetáculo, com manipulação”, ou ainda que “política só se faz comprando outras pessoas”.

Só mesmo um ser muito TAPADO, para dizer que “aqui [na faculdade] vocês são treinados”, “hoje eu já depositei bastante em vocês” e que “para um pessoal bem esclarecido isso não funciona, mas para o pessoal de escola pública, tá ótimo”.

Só alguém realmente incapaz de respeitar a heterogeneidade, para dizer rindo, que foi comunista um dia, quando tinha uns vinte anos e pensava com os neurônios, não com as sinapses.

Desculpa cidadão, meus pais me ensinaram princípios de ética e respeito. O curso de ciências sociais me ensinou que política é uma ciência e sua prática requer isso. Quem conhece um pouco de prática pedagógica deveria saber que não se “deposita” conhecimento, que a educação é uma troca e não uma caderneta de poupança; e que embora a escola pública tenha falhas, ela não anula dos educandos, a capacidade crítica e de reflexão. Quem produz conteúdo deve saber que não está lhe dando com um público passivo, incapaz. E qualquer pessoa deve saber que não se treina outras pessoas, como se adestra um cachorro a dar a pata; se ensina, num processo de mão dupla, onde educador é também educando.

E por fim, não custa nada dizer que tive professores com mais de cinqüenta anos que lêem teóricos como Marx, ainda acreditam nele; assim como tive professores de direita, que nem por isso tratam com descrédito o material produzido por esse pensador; e ainda respeitam a opinião de jovens de vinte e poucos anos, acreditando no potencial e na cognição deles, tão capaz quanto outra pessoa qualquer.

Minhas mais sinceras ações de repúdio a esse profissional desqualificado.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Desaniversário

Depois de tanto desencontro, desconcerto, desavença, desengano, desamor, desacerto, desalento, desatino, desvario, despedida, desafeto, desacordo, desacato, desaforo, desabafo, desagrado, desajuste, desalinho, desamparo, desapego, desarranjo, desatino, descalabro, desencanto, desconforto, desconversa, desmazelo, desatino – depois de desgastar, de desistir, de desmanchar e descartar; eu medesalinho e desencano. Hoje tudo desagrava. Hoje tenho alguém que eu amo.