sexta-feira, 26 de março de 2010

Narcisa e a noite.

À noite Narcisa se revela. Egoísta. Queima o dedo com a bituca do cigarro. Durante o dia, Narcisa não fuma.
Se mostra inteira. Frágil. Cansada. Narcisa.
Bebe alguns copos de cerveja e mostra o cansaço com o mundo. Diz o que pensa e o quanto odeia tudo.
Narcisa é uma merda. Canta, dança, estuda, come e dorme. Não sabe o que é a vida. E acha que isso é tudo. Não tem nada. Só ausência.
Lhe falta vergonha, decência, movimento, vontade, coragem. Falta vida, sede, luz.
Pobre Narcisa. Tão viva. Tão gente. Tão caco. Tão pedaço de nada, resto de mundo. Sobra de mundo.
Fazer o quê? Narcisa é humana. Se olha no espelho e se acha bela. Olha pro mundo e nem sabe o que é. Faz pose pra foto e se faz estática, como merda. Estética. Morta pro mundo como quem fecha os olhos pro novo. Canta o cansaço. Beija o sono. E dorme... no acredita ser felicidade. Natural. Está morta. E ainda acredita em mágica.

Nenhum comentário:

Postar um comentário