sexta-feira, 29 de março de 2013

do erro de estar ainda aqui

sabe, mãe, a vontade que eu sinto de te liga re dizer que sou uma merda?
conhece o peso que carrego nas costas, por querer te dizer que ando ao ponto de largar tudo, caminhar sem roupas e de pés descalços pelas ruas, pronta a me jogar na frente de qualquer carro que passe em velocidade além do limite?
porque eu respeito todos os limites, mas odeio todos. acho que limites me fazem mais fraca, mais feia, mais besta. limites me fazem mais falha. daquelas que não erram por medo.

e eu sinto falta do erro. medo do erro. ódio do medo.
sinto o erro pulsando.

o lixo

se algum dia você entender que não era pra você, que era pra um destino sem pé nem cabeça, nem nada, só câncer, entenda que já foi também um dia pra você; que foi minha visão intraduzível terrível do mundo.
saí de você com uma imagem ruim do amor. não, não foi ruim, foi intragável. De forma que não desejo mais viver amor algum, muito menos reencontrar você, que é lembrança de um erro incorrigível.
pra você, desejo paz, tranquilidade de quem não sabe a ferida que fez. pra mim, desejo paz, de quem aprendeu a lhe dar com a dor. porque não acredito em ninguém, só em quem me diz que você foi lixo.

do lugar qualquer - não meu.

não é vontade de morrer. é vontade de matar. ou talvez o contrário. e nunca saberei, porque não ousaria matar. nem mesmo um grande amor, vício, desejo. não mataria um desejo sem antes realizá-lo. porque só assim se mata o indesejável, insolúvel, intragável. só com dor, frieza, pouco caso. e assim se mata o mais doído. com descaso de quem ama mil amantes, corpos lúgubres, cheios de desejo sem amor.
porque amor é ilusão de quem quer fazer deste lugar, um lugar pra si. quando lugar tanto faz, tanto fez, tanto é.  quando lugar é passageiro, sujo, substuível.

a beira do abismo

se eu fosse embora agora, minha mãe sentiria vergonha. vergonha de tamanha fraqueza que é não saber seguir em frente quando tudo é caos. vergonha de apenas meus vinte e  cinco anos e desistência. apenas vinte e poucos anos e cansaço.
vinte cinco anos e saco cheio, seria vergonha. e só por isso sigo.
não é falta de amor nem de coisa alguma. só tenho que ir, como cartola, que precisa se encontrar, sair a procurar.

quinta-feira, 21 de março de 2013

sonho ruim

ela apareceu de manhãzinha, quase hora de acordar. como tivesse voltado de uma viagem curta, pra lugar qualquer. me disse que queria voltar pra mim, e voltamos a namorar.

nesse sonho, não sei quanto tempo depois - porque o tempo de um sonho pode ser uma fração ou uma vida toda - ela decidiu ir embora. tinha um meio-sorriso, quase tédio, quando me disse que não queria mais. e de susto, tristeza, saudade, eu acordei num pulo.

vê-la partir no sonho era ruim, mas acordar sem ela era pesadelo.
voltei a dormir pra que ela voltasse.

quarta-feira, 6 de março de 2013

fossa leve

neste momento estou olhando as nossas fotos. não é sem querer, é com a intenção nada velada de me torturar. não é porque eu senti sua falta e decidi relembrar. é porque lembrei, e resolvi sentir sua falta. então estou olhando as fotos e mentalmente me contando a história de cada uma delas. lembrei de você (aliás, lembrei da gente) porque abril se aproxima e foi a nossa primavera. abril foi nosso mês florido. éramos um jardim, você-rosa, eu-girassol.

não sei se às vezes você pára e lembra de nós, mas eu gosto de me pôr a reclamar com mundo pensando no que a gente não foi. peguei gosto pela coisa. falando assim, você pode pensar que estou meio amargurada, e quer saber?, por muito tempo até fiquei. mas hoje tirei férias dessa coisa, e estou brincando de novela. botei pra tocar músicas fossa, algumas que me lembram você, outras que simplesmente são fossa porque são. algumas eu nem sei o que dizem, mas um sexto sentido me diz que é de corno, então botei pra rodar na vitrola que hoje é o youtube.

entrei naquela página abandonada do orkut e estou olhando o último álbum de fotos nossas que eu fiz, pedindo pra você voltar. você nunca disse nada sobre esse álbum, mas também não voltou, então é óbvio que ele não funcionou. tem também aquele vídeo tosco de fotos nossas que eu fiz assim que começamos a namorar, assim que eu tomei coragem pra dizer que aquilo tudo já era amor. deus do céu, não permita nunca mais que eu faça um vídeo daqueles (coisa cafona!), e protegei os próximos casais apaixonados, pra que não paguem um mico desses. vivemos muitas coisas bonitas, mas algumas coisas que pessoas apaixonadas fazem são um verdadeiro mico para a história da humanidade. em resumo, estou curtindo este momento fossa com leveza e bom humor.