quarta-feira, 8 de maio de 2013

Cravos e epifanias

Desde que você embora, nenhuma flor entrou em casa. Antes de qualquer coisa, porque mesmo antes de você ir, os poucos vasos já haviam sido quebrados em uma discussão qualquer. Mas também, porque imagino que uma casa com flores, é uma casa de gente feliz, e eu não podia dizer que era exatamente feliz com a sua ausência.
Um pouco mais tarde, pensei em comprar flores, enfeitar a casa, colorir a vida, perfumar os dias. Pensei em rosas, logo de cara. Mas elas me fazem pensar em você. Tanto porque é a flor dos apaixonados, quanto porque é a sua flor, seus braços, sua mãe; porque é a flor que te entreguei junto com meu amor, na primeira vez em que saímos juntas.
Pensei nas gérberas, uma das minhas preferidas, todas cheias de vida nas suas várias pétalazinhas infantis. Então, como uma pancada, me veio à cabeça as inúmeras gérberas que você já me deu, por motivo qualquer ou por motivo nenhum, só porque lembrou de mim em um momento qualquer numa epifania de amor. Pronto, não consegui pensar numa só gérbera nesse mundo que não fosse me castigar com a lembrança do seu sorriso aberto. Tudo isso foi razão suficiente pra nunca mais pensar em flor alguma.
Eis que saindo do mercado, num fim de tarde qualquer, dou de cara com um balde com um só único cravo. Provavelmente, todos os outros haviam sido vendidos e ele fora o único que não havia sido escolhido.
Por que não?! Comprei por impulso, sem pensar o quanto podia me maltratar o peito ter uma flor em casa outra vez. No caminho pra casa, até pensei que fazia muito sentido ter aquele cravo comigo; não era cravo de defunto, mas celebrava alguém que já não era mais presente, e além de tudo, estava sozinho no balde, mesma sensação que você deixou ao pular fora do barco. 
Então era isso, o cravo e eu. 



Hoje parei pra dar uma olhada na internet, sobre o significado de algumas flores, e heis que me deparo com a descrição do cravo listrado: simboliza lamentar um amor que não pode ser partilhado.
Não sei se é fato ou não, provavelmente não significa nada, mas eu fico com essa explicação.

E sabe o que é pior? O cravo ficou lindo aqui em casa. Não tinha nenhum vazinho pra ele, mas ficou perfeito numa garrafinha de tubaína. 

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