segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Abandono

E eram os olhos mais lindos e mais tristes que um dia eu já vi. Clamavam por liberdade, mas temiam o abandono. Bilhavam sob a luz do sol, enquanto escondiam o medo e a insegurança, que suas pernas trêmulas denunciavam.
Ora ela se encolhia inteira, ora ela pulava e tentava fugir. Queria muito um afago, mas temia o toque. A vida até há pouco não lhe tinha sido justa e ela precisava urgentemente de um lar.
Merecia antes de dormir, um carinho atrás das orelhas; ao acordar, um jardim onde pudesse correr e rolar na grama. O dia todo à sua disposição ela merecia um pote transbordando de água limpa e outro até a boca, cheio de ração.
Era só uma cachorra, recolhida pelo centro de zoonozes, esperando a adoção.
Enquanto isso, esperava sem saber, por cada domingo que pudesse sair da baia, e caminhar pela terra, com mais outros quatrocentos vira-latas...

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