sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Sobre o hoje e o nada

São só dias ruins, tudo bem.
Eu tenho ruas preferidas e ruas que eu não gosto, então caminho por elas, recortando a cidade a pé em ziguezague, só pra olhar os prédios frios e uns sorrisos amarelos. Passeio com meu cachorro imaginário. E eu que nem fumo, acendo um cigarro só porque o dia cinza pede que seja assim. No fundo tem uma certa graça em ser tão deprimente.
Na bolsa, carrego alguns quase trinta livros que não me deram respostas, e procuro um lugar onde possam pagar por eles. Ando até um pouco torta, porque agora eles me pesam no corpo, o que já também pesaram na alma.
O cachorro pára para cheirar uma árvore e eu me abaixo para amarrar o tênis. Então ele me dá uma lambida e encosta seu nariz gelado no meu rosto. É bom ter um cachorro! Ele me faz rir quando nada mais faz sentido. Ainda que seja uma lambida, um cachorro e uma risada imaginária... Que é que tem demais? O sentido das coisas também não é real...
Então não, não vou vender mais meus livros. Aliás, entra quietinho aqui Cão, tenta não deixar que te vejam. Vamos comprar mais livros. Quem sabe algum deles traga aquelas velhas respostas.
Prateleiras, prateleiras, prateleiras. Sobre elas, livros, livros, livros. Entre elas, pessoas, vazios, pessoas. Todo mundo procurando alguma coisa, e nem se sabe o quê.
Ah não! Você não podia esperar para fazer xixi lá fora? Tanta árvore na rua, e você vem mijar exatamente dentro da livraria?! Ah Cão, como você me diverte!
E aí a gente volta pra casa, sem vender livro nenhum, sem comprar livro nenhum, sem trazer resposta alguma. Passa no mercado e traz um vinho pra casa. No caminho descobre que quando crescer, quer ter uma floricultura.
Em casa, senta na rede, acende um cigarro, bebe um copo de vinho (um copo medíocre, nada de uma taça de vinho) e faz carinho no cachorro, deitado nos pés, enquanto imagina uma linda floricultura, numa cidadezinha no subúrbio da França, com tijolinhos na entrada e o cão deitado perto da porta, abanando o rabo feliz pra poodle que passa na rua.

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